Revolução e Socialismo (1919) – Gustav Landauer

Gustav Landauer foi um anarquista alemão do fim do século XIX e início do século XX.
Defensor do anarquismo comunista, era também um pacifista,
influenciado principalmente pelas ideias de Leon Tolstoi.


A revolução só pode ser política. Não seria apoiada pelas massas exploradas se a pressão social e a necessidade econômica não se originassem também delas; mas a transformação das instituições sociais, das relações de propriedade, da forma da economia não podem vir por meio de uma revolução. De baixo, só se pode sacudir, destruir, abandonar; de cima, mesmo por um governo revolucionário, só se pode abolir e comandar. O socialismo deve ser construído, deve ser estabelecido, deve ser organizado a partir de um novo espírito. Este novo espírito está trabalhando poderosa e intimamente na revolução; bonecos tornam-se seres humanos; filisteus enferrujados tornam-se capazes de serem abalados; tudo o que é fixo, até posturas e negações, é abalado; a mente, que de outra forma pensa apenas em si mesma, torna-se pensamento racional e milhares ficam sentados ou andam inquietos em seus quartos e pela primeira vez em suas vidas elaboram planos para o bem comum; tudo se torna acessível ao bem; o inacreditável, o milagre, move-se para o reino do possível; a realidade escondida em nossas almas, nas formas e ritmos da arte, nos credos da religião, no sonho e no amor, na dança dos membros e no brilho do olhar, empurra para a realização.

Mas o imenso perigo é que a leviandade e a imitação também se apoderem dos revolucionários e os transformem em filisteus do radicalismo, de palavras sonoras e gestos violentos; que eles não sabem e não querem saber: A transformação da sociedade só pode vir no amor, no trabalho, no silêncio. Há outra coisa que eles não sabem, apesar de todas as experiências de revoluções passadas. Todas elas foram grandes renovações, desafogo vibrante, o tempo alto dos povos; mas o que trouxeram de durável foi pouco; no final, foi apenas uma transformação nas formas de privação de direitos políticos. A liberdade política, a maturidade, o orgulho íntegro, a autodeterminação e a solidariedade orgânico-corporativa das massas por um espírito unificador, associações de voluntariedade na vida pública só podem ser trazidas pelo grande equilíbrio, só podem ser trazidas pela justiça na economia e na sociedade, só podem ser trazidas pelo socialismo. Como poderia haver em nossa era, na qual está inscrita nas consciências, segundo o espírito cristão, a igualdade de todas as filhas e todos os filhos da humanidade de acordo com origem, reivindicação e determinação, uma comunidade de verdadeiras comunidades, como poderia haver uma vida livre pública, permeada pelo espírito de todos os homens e mulheres que fervorosamente se movem para o futuro, com muita força interior, se persistem de alguma forma e disfarçadamente escravidão, deserdação e rejeição da sociedade?

A revolução política, na qual o espírito chega ao poder, ao comando forte e à aplicação decisiva, pode abrir caminho para o socialismo, para a transformação das condições a partir de um espírito renovado. Mas, por decretos, os homens poderiam, no máximo, ser integrados como soldados do Estado em um novo exército econômico; o novo espírito de justiça deve ir ao trabalho ele mesmo e deve criar suas próprias formas de economia; a ideia deve abraçar as exigências do momento com sua ampla visão e moldá-las com punho cerrado; o que até agora tem sido ideal, através do trabalho de renovação nascido da revolução torna-se realização.

A necessidade do socialismo existe; o capitalismo está em colapso; ele não pode mais trabalhar; a ficção de que o capital trabalha explode e vira espuma; o que atrai o capitalista apenas para seu tipo de trabalho, para o risco da propriedade e para a gestão e administração de empresas, o lucro, não mais lhe acena. O tempo da rentabilidade do capital, o tempo dos juros e da usura acabou; os grandes lucros da guerra foram sua dança da morte; para não perecermos em nossa Alemanha, perecermos real e literalmente, a salvação só pode ser trazida pelo trabalho, o trabalho verdadeiro preenchido por um espírito sem ganância, trabalho pleno e orientado pelo espírito fraternal, trabalho organizado, trabalho em novas formas e liberto do tributo a ser pago ao capital, trabalho incansável criando valores, criando novas realidades, que extrai e transforma os produtos da natureza em necessidade humana. Ou a idade da produtividade do trabalho amanhece, ou estamos no final. Forças da natureza antigas e recém-descobertas têm sido colocadas a serviço da humanidade pela técnica; quanto mais pessoas cultivam a terra e transformam seus produtos, mais ela rende; a humanidade pode viver dignamente e despreocupadamente, ninguém precisa ser escravo dos outros, ninguém precisa ser abandonado, ninguém precisa ser deserdado; para ninguém os meios de vida, do trabalho, precisam se tornar uma labuta e um incômodo; todos podem viver para o espírito, a alma, o jogo e o Deus. As revoluções e sua pré-história dolorosamente longa e pesada nos ensinam que só a necessidade extrema, só o sentimento do último momento traz as massas de homens à razão, àquela razão que é sempre a natureza dos sábios e das crianças; para que horrores, para que ruínas, para que dificuldades, pragas terrestres, pestilências, conflagrações e abominações da selvageria devemos esperar se nesta hora do destino a razão, o socialismo, a orientação do espírito e entrega ao espírito não vierem aos homens?

Extraído de: Achim v. Borries / Ingeborg Brandies (1970). Anarchismus. Theorie, Kritik, Utopie. (Anarquismo, teoria, crítica, utopia) Joseph Melzer Verlag, Frankfurt.

Publicação original:
Aufruf zum Sozialismus (Chamado para o socialismo) (1911[1919]). Do prefácio à segunda edição revisada e ampliada (Munique, 3 de janeiro 1919, S. X-XII).

Link do texto publicado em alemão: https://www.anarchismus.at/anarchistische-klassiker/gustav-landauer/109-gustav-landauer-revolution-und-sozialismus

Publicação do texto em alemão com autorização generosa da Editora Abraham Melzer no site www.anarchismus.at.


Para acesso e tradução gratuita, sugerimos: www.deepl.com

Tradução: Timo Bartholl

Revisão da tradução: Luiz Alberto Sanz

Janeiro de 2022

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