Instituto de Estudos Libertários entrevista Davi Shogun

Março de 2024

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Quem é Davi Shogun?

Davi Shogun, como é conhecido no meio da luta, é o Professor e treinador geral da equipe Resistência Muay Thai. Vindo das periferias de São Paulo, iniciando com o punk e formado em Ciências Sociais.

Quando e como conheceu o anarquismo?

Como disse acima, iniciei no Punk. Meu irmão que, na época, já estava cursando Ciências Sociais (que depois vim a cursar também), me perguntou se eu era anarquista e, quando disse que sim, ele me deu 2 livros: “Deus e o Estado” (Mikhail Bakunin) e “O capital” (Karl Marx) e me disse para ler e falar qual eu concordava… Não foi fácil, mas, com um dicionário ao lado, li e disse que Bakunin tinha as ideias com que eu mais me identificava. Então, ele me aconselhou a fazer Ciências Sociais para entender melhor e o fiz.

Você se identifica mais especificamente com alguma corrente histórica do anarquismo?

Meu primeiro contado, como disse acima, foi com Bakunin, mas depois comecei a ter mais referências e flertar bastante com o anarco-sindicalismo de Kropotkin. O último livro que estava lendo foi “Problemas e possibilidades do anarquismo” de José Antonio Gutiérrez Danton. Mas afastado da academia, leio um pouco menos.

Como se caracteriza a sua militância?

Acho que hoje em dia a minha militância, não sei se posso falar que sou super ativo nela. No meu dia a dia, no convívio com meus alunos e atletas, sempre tento trocar uma ideia saudável, livre de alguns preconceitos, que sabemos que está bem encrostado na galera periférica (que é o meu público no Centro de Treinamento). Por trabalhar com jovens, acho isso bem importante na parte de conscientização. E por falar conscientizar, também faço parte de una banda Punk(Destino Cruel), onde expresso alguns pensamentos e anseios sobre um mundo melhor, pois vim do punk e me mantive nele até hoje.

Soubemos que é praticante de artes marciais: o que chegou primeiro na sua vida: os primeiros contatos com o anarquismo ou as artes marciais?

Bom, primeiramente, como disse acima, tive contato com o Punk. Desde então, o anarquismo começou a ser constante no meu dia a dia, por fazer parte de uma cultura de rua, precisava também saber me defender de possíveis confrontos que poderiam vir a acontecer.

Qual luta você pratica e qual a importância na sua militância?

Sou praticante de Muay Thai.

A arte marcial me manteve ativo (e se posso dizer vivo) até os dias de hoje, pois é a arte marcial de luta em pé mais completa.

No período em que iniciei os treinos, descobri sua origem e o que ela tinha a ver com a liberdade. Fiz um comparativo e vi que tinha tudo a ver Muay Thai com Liberdade. A própria Tailândia também nunca foi colonizada (acho isso um fato importante), e a arte marcial se fez presente para isso. O Muay Thai sempre foi como uma luta de guerra e usada para defender o povo de invasões (acho que isso me chamou atenção).

Como você definiria o campo libertário hoje em São Paulo?

Como disse, hoje estou bem próximo ao Punk, musicalmente e ativamente com projetos de fanzines. Na feira anarquista de SP que rolou no ano de 2022, estive presente com uma oficina de Muay Thai (foi apenas um teste para uma futura oficina mais elaborada), mas, pelo que percebi, a galera estava bem engajada. Coletivos, editoras, anarquistas solos, punks, anarcopunks… achei a galera bem interessada e produtiva.

Quais espaços e grupos você frequentou nos último tempos?

Como disse sou Punk, membro de uma gangue, Ameaça Punk, na qual já estamos no Punk desde 2006. Uma época estávamos mais ativos, em outra demos parada com produção de zines. Agora o projeto é voltar aos zines e eventos que promovam a difusão do anarquismo, arte e pensamentos críticos.

Tem preferência por algum clássico do anarquismo?

Como disse acima, minha primeira paixão, “Deus e o Estado”, não tem como virar as costas para um clássico desse.

Como anarquista, qual é a sua visão da atual conjuntura política?

Acredito que hoje o cenário político atual está cada vez mais preocupante. Acreditar na política se faz a cada dia algo mais distante (pensando em igualdade e soluções de problemas). A pseudo-esquerda no poder trabalhando com a direita na troca de favores e cargos me volta a mente o quanto devemos trabalhar na base da conscientização, com projetos sociais e continuar próximo à sociedade civil.

Existe esperança para a realização da revolução libertária nos tempos que vivemos?

Acho que essa é uma ideia sempre citada nas rodas de conversas, mas acho que revolução se dá a cada individuo com que você consegue trocar uma ideia e colocar dúvidas na cabeça dele. A crítica individual e social é a semente que pode trazer mudanças.

Suas considerações finais.

Bom, gostaria de agradecer por terem me procurado, acredito que espaços libertários no meio da arte marcial são ainda bem difíceis. Por isso, achei bem legal vocês darem a voz para pessoas que trabalham dessa forma. Acredito que isso é uma tendência que venha a crescer e gostaria de conhecer outros grupos que trabalham da mesma forma.

Seguimos de pé e pensamentos ativos.

A presente entrevista foi organizada pelo nosso colaborador Renato Canova.

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